quinta-feira, 15 de janeiro de 2009




MESTRE, ONDE MORAS?

José da Cruz
Quem é que não se lembra lá dos anos 60, da alegria contagiante que tomava conta dos vilarejos do nosso então Distrito Industrial, quando da chegada de algum circo? Recordo-me da Vila Albertina e dos “Bonecões” do Circo ORDEP que passavam pela nossa rua, atraindo a atenção de adultos e crianças. A gente ouvia o alegre alarido
-lá no início da Rua Albertina Nascimento, próximo à rua do comércio, e em questão de minutos a molecada fazia a festa, acompanhando a pequena comitiva, vibrando com o desempenho dos palhaços e acompanhando atentamente a evolução do grupo de bonecos gigantes que era a marca registrada daquele circo. Acompanhávamos todo o percurso até a saída para a Rua do Comércio pela Rua Antonio Festa. Depois, cada um da minha turma corria atrás de ganhar uns trocados para ir na matinê circense, pois a pequena comitiva era apenas um “aperitivo” das atrações que o Circo oferecia, eles não eram a principal atração mas levava as pessoas a algo maior que era o espetáculo circense, em um belo trabalho de marketing, feito com muito sucesso pois o circo lotava nas tardes de domingo.
Na história da salvação Deus usa da mesma pedagogia, Jesus Cristo não se encarnou entre os homens logo após a degeneração da humanidade, representada no pecado de Adão e Eva, mas teve um anúncio anterior, todo um desenrolar de fatos, pessoas importantes ou gente simples do povo, que fizeram parte do povo de Israel: Patriarcas, Juízes, Reis e Profetas, tudo prenunciando algo grandioso que viria, até João Batista, o precursor, que veio à frente como a comitiva do circo ORDEP, anunciando com entusiasmo e muita motivação, a chegada de um tempo novo que é o reino de Deus inaugurado em Jesus.
Na hora e no momento certo, quando percebeu que os dois discípulos estavam preparados para aprofundar a relação com o Deus Salvador, presente em Jesus, João Batista aponta para Jesus que passava e falou com firmeza “Eis o Cordeiro de Deus...” . Em outras palavras e em uma linguagem de hoje –
“Esse é o cara! É o Messias Salvador, é o enviado de Deus, é aquele de quem vos falei, é a ele que vocês devem seguir. João Batista é um figurante, é um mestre transitório, é só uma voz que clama no deserto, é um instrumento, a atração maior e principal é Jesus, alvo do seu anúncio. Que postura bonita de João ! Poderia quem sabe, tentar prender os discípulos a si, para ter mais prestígio, poderia omitir-se de dizer a eles quem era Jesus, poderia achar-se no direito de dizer que eles ainda não estavam preparados para serem discípulos...Comunicar-se e ter um círculo grande de ouvintes, leitores e seguidores, tornar-se ponto de referência, conselheiro, e as vezes, o que é pior, pensar pelas pessoas e até decidir por elas.
Essa é a tentação sempre perigosa para um catequista ou um agente de pastoral, ou participante de Movimento e associações religiosas. Achamos que as pessoas nos pertencem e de algum modo as manipulamos, para que elas nunca deixem de nos prestigiar permanecendo nossos eternos admiradores, quando aparece alguém da mesma linha ou de uma qualidade melhor, em vez de anos alegrarmos acabamos sentindo nele um concorrente. Olhemos para João Batista...
Foi um ótimo catequista e agente de pastoral, falou com tanta sabedoria e entusiasmo do novo reino, que despertou nas pessoas o desejo de aprofundar sua relação com Deus, buscando a experiência de Jesus Cristo “Mestre, onde moras...”, e ao chamado de Jesus eles não pensam duas vezes, passam a morar com ele em sua casa. Temos aqui uma linha de catequese que é puro kerígma: Primeiro ver e ouvir o anúncio de João, depois ver e ouvir o próprio Jesus, passando-se então a uma outra fase que é a do seguimento ou discipulado. E como um bom discípulo nunca se afasta do seu mestre, a experiência atinge o seu auge que é o morar, isso é, permanecer com Cristo, permitir que ele faça parte da nossa vida, como aceitou que nós fizéssemos parte da sua, ao encarnar-se em nosso meio.
E por último vem o testemunho, que não pode ser dado em um mero entusiasmo como fogo de palha, mas com a firmeza de quem encontrou tudo o que queria nesta vida “Encontramos o Messias!”., este seria o anúncio, o exercício do mandato missionário, missão primária da nossa Igreja, e após essa fase vem o seguimento, conduzir o outro até Jesus, como André fez com Simão. Na hierarquia da Igreja, Simão Pedro terá uma responsabilidade maior e mais tarde irá orientar até o próprio André, mas a sua maravilhosa experiência de Cristo, que mudou totalmente a sua vida, começou com as aulas de catequese do primeiro anúncio que André lhe fez. A Igreja é por excelência a primeira anunciadora do evangelho, missão confiada pelo próprio Cristo, é impossível amar a Cristo sem amar a Igreja, que se faz presente em cada um de nós.
Rendo minhas homenagens a Professora Ignez Paschoalina de Freitas, uma das catequistas que tive na minha formação cristã, e que era leitora assídua de nossas reflexões. ( II DOMINGO TEMPO COMUM – João 1, 35-42)
José da Cruz é Diácono Permanente
-da Paróquia Nossa Senhora Consolata-Votorantim
E-MAIL cruzsm@uol.com.br,
Disponível em VÍDEO http://diaconojcruz.zip.net/

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